Alexandre De Bonis
Permitam-me esclarecer alguns detalhes sobre os evangélicos e a mídia.
A primeira regra da assessoria de imprensa é que um release deve ser assinado por um jornalista. Jornalistas valorizam o profissional. Não adianta muito qualquer outra pessoa enviar sugestão de pauta, porque vai para o arquivo "cesto" de lixo.
A segunda observação é exatamente a sugestão de pauta. O principal trabalho do assessor de imprensa (AI) é "vender" a pauta para o veículo, através de releases ou kits enviados aos editores. O AI envia uma sugestão de pauta e não a matéria pronta. Se o editor julgar a matéria pertinente, ele vai escalar um de seus repórteres para fazer a matéria.
Agora imaginem um editor de jornal ou revista, secular ou evangélico, que recebe centenas de releases diariamente, ter que selecionar os assuntos da pauta do dia. Muita coisa vai ficar de fora, não há espaço para todos. A prioridade são assuntos de interesse geral e não apenas de um segmento. Então não basta enviar o exemplar do jornal da igreja ou da instituição toda semana pensando que vai gerar uma pauta no jornal secular, porque não vai. Se o objetivo é esse, não vai ser atingido. Se o objetivo é enviar o jornal, para que alguém se interesse e leia e conheça um pouco dos evangélicos, pode até ser. Mas os jornais evangélicos, em sua maioria, trazem assuntos domésticos, que não são do interesse do público em geral. A maioria das chamadas de capa só é entendida pelos próprios evangélicos e não chama a atenção do não-evangélico. O assunto só vai entrar na mídia secular se for relevante para toda a sociedade. Não é o fato de uma igreja completar 75 anos que vai ser notícia. Tem que ser algo que cause impacto na sociedade, que faça diferença socialmente.
Temos dois exemplos do trabalho do AI, em que dois obituários foram publicados no Jornal do Brasil. Não porque os editores receberam um jornal evangélico com a notícia dos obtuários, mas porque houve um trabalho de AI. E os obituários só foram publicados porque ambos os pastores tinham uma história relevante para a sociedade: um foi o primeiro capelão evangélico do Exército e esteve na Segunda Guerra e outro fundou a Escola Bíblica do Ar. Uma pessoa comum, que não fez algo significativo para a sociedade não vai estar nas páginas dos jornais seculares. Esse é o critério. Não é a lista de cargos que se ocupa nas igrejas ou denominações. A pessoa tem que ter feito algo para a sociedade como um todo e não apenas para o meio evangélico. Aqui fica muito claro que as boas obras é que contam.
O trabalho do AI é descobrir esses assuntos relevantes para a sociedade e trabalhar junto à mídia para que consiga um espaço gratuito e mídia espontânea.
Outro equívoco é pensar que a mídia secular vai publicar nossos artigos, ainda que estejam "elaborados". Nós, evangélicos, estamos acostumados com alguns veículos que são quase que exclusivamente de artigos de opinião. Há pouco trabalho de reportagens. E pensamos que na mídia secular é assim também. Não é. Eles produzem suas matérias, têm repórteres para isso e não publicam artigos de opinião enviados por pessoas de toda a parte do mundo. Vocês podem ver que as páginas de opinião são limitadas. E não é qualquer desconhecido que tem seu artigo publicado ali.
E o mais grave de todos é pensar que matéria paga e "presentinhos" sejam coisas legais. Ainda que alguns veículos evangélicos aceitem isso, o jornalista que se vende fica malvisto no mercado. Não é ético. E se nossa justiça deve exceder a dos fariseus, então, nem deveríamos cogitar tal situação. Nós não podemos fazer porque todo mundo faz. Se não é correto, não é ético, então é pecado. Temos que dar o exemplo. Quando não conseguirmos mídia espontânea, devemos fazer um informe publicitário ou um anúncio e nunca uma matéria paga.
Em contrapartida, não parece que os evangélicos têm interesse em estar na mídia, porque poucas instituições têm um profissional de AI. E um dos papéis do AI é treinar os funcionários para o relacionamento com a mídia. Infelizmente nossos líderes não são treinados para isso. Vivemos histórias recentes e lamentáveis de relacionamento com nossa liderança evangélica que provam o despreparo das nossas instituições.
A primeira aconteceu em um congresso, em que uma jornalista foi como congressista e pagou a inscrição. Mas conseguiu vender uma pauta para um veículo evangélico. Ao ser proibida de fotografar a abertura do evento, ela procurou o diretor-geral para conseguir uma credencial de imprensa para poder trabalhar livremente, mas o diretor a "proibiu" de fazer qualquer matéria sobre o congresso para aquele veículo. Mais tarde tomamos conhecimento dos motivos da proibição. Foram motivos pessoais desse diretor-geral, de algo que aconteceu no passado entre ele e a direção do veículo. E por causa desse problema pessoal ele deixou de ter uma matéria espontânea publicada na mídia evangélica.
A outra situação aconteceu em um congresso de Teologia. Uma jornalista solicitou uma credencial de imprensa, porque seu interesse era puramente profissional. Ela obteve a credencial, mas os organizadores do evento se recusaram a conceder-lhe o material do congressista. Depois de algum diálogo, eles entregaram apenas o manual, em que não havia informação sólida sobre o evento. Não havia um kit para a imprensa.
Nem é preciso dizer que nada foi publicado nos veículos que ela representava ou fez contato. E esses são apenas dois exemplos. Se investigarmos, encontraremos outras histórias tristes. É um grande erro pensar que só a mídia secular tem valor e tratar mal os jornalistas evangélicos. Muito assunto que sai na mídia evangélica tem repercussão na mídia secular. E todos os profissionais de comunicação, evangélicos ou não, devem ser tratados com respeito. Precisamos valorizar o profissionalismo e deixar o amadorismo para o passado.
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